quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Lagrimas de Prata

Sou médico num hospital, todos os dias confronto-me com a inevitável razão de viver, sabendo que a qualquer momento algo cortará o fio da minha vitalidade e espirito, eu saberei prontamente e sem fugas a verdade, da morte. A morte é ingrata, é triste, é afogante, dura e sem motivo ou critério de escolha. Vejo todos os dias lagrimas cair no chão, estendendo-se num rio de prata e tristeza, de onde os sentimentos e a dor, deixam-me sempre apreensivo, apatico, palido e sem fisura ou coragem para enfrentar certos momentos. Não sei se sera por nunca ter chorado ao pé destas familias que pedem misércordia e um presumivel céu a Deus para o seu ente querido. Mas... num simples dia de trabalho vi um outro alguem morrer sem ninguem ao perto a rogar a sua vida, ou a pedir algo a Deus...estranhei...foi então que vi a face palida e sem vida de Robert e ai caiu-se-me as pernas , os braços, cabelos e um rio de lagrimas...de prata. Robert era meu amigo desde infância, desde de cedo perdeu a mãe e após completar 18 foi-se-lhe o pai. Não tinha avós, irmãos, tios, primos ou amigos, tinha-me so a mim...ele morreu, foi-se simplesmente, doi-me a alma, a cabeça, tenho o coração enterrado nos mais duros musculos do peito. Foste-te para sempre, mas deixas-te-me a nostalgia, a revolta, a dor, o esbatimento e um mundo sem cor. Mas agradeço-te por teres ido, fizeste-me chorar lagrimas de verdade, lagrimas de prata que igual aos outros estendiam-se cheias de sentimentos e tristezas...no chão.


Joaquim Graça (29/09/2010)


1º Heterónimo de' O Camões Preto

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Na toca

O Bongo toca e cada bichinho barulheto entra na sua devida toca. Uma coruja chega com folhas de papel e os bichinhos tiram para fora algo parecido e bicudo a um pincel. A toca não se acalma e só se ouve guichinhos abusadores, cada bichinho difere-se do outro a partir da sua inteligência, rebeldia e cor. Pincéis voam e bichinhos rebolam contentemente no chão, a coruja chateia-se e cai-se-lhe uma pena...Um bichinho é expulso da toca, a coruja manda-lhe para o frio e coitado do pequeno diabinho grita para a ditadora dizendo que ela tem cio.

O Camões Preto

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A Saudade

A saudade é algo que nem Deus consegue explicar, se cá estivesse. A saudade é um dos mais dolorosos sentimentos que há a sentir neste mundo. Saudade de alguém, de um bicho, de um animal, de um sorriso, de um lugar, de um tempo, de um beijo ou mesmo de um simples olá. Bem eu sou um pedaço de carne humana que vagueia neste mundo, um pedaço que apesar de muitos pensaram não ter outrora sentimentos, declara sentir neste momento um dos mais duros que Deus fizera-me sentir…a saudade, a simples e dura saudade.
Sinto saudades de diversas coisas mas que certamente neste pedaço de papel que no qual escrevo estas linhas não significariam nada, a não serem simples palavras… de tanta saudade destaco a que sinto de ti…sim de ti que estás longe de mim, penso como estas, com quem e o que fazes…lembro-me de cada sorriso teu, de cada palavra expressada, de cada pedaço do teu corpo que eu…ainda penso em ter. Sei que as minhas saudades são poucas para as que deviam ser, deviam ser mais, devia estar a morrer, a pedir, a rogar, a chorar rios e rios por não te ver. Mas eu nunca vi um homem admitir que chora. E isso hoje eu não admitirei…

O Camões Preto
Escrita em África 16/07/10