sexta-feira, 22 de abril de 2011

A carta!


Já ia longo o dia quando sobre ti vieram-me as mais lindas e fantásticas memórias que o meu coração tão bem guarda, ao longo destes anos. Não sei, mas os diversos impulsos que um homem que de ti tem o maior apreço e gosto vêm sempre ao de cima. Não serão caracteres de uma máquina de escrever, nem uma letra transfigurada de um doutor que escreve num papel perfumado para que depois o vejas. Lembro-me bem de tudo apesar de parecer mentira. Está-me tão presente na memória aquele nosso verão bem passado a costa, onde a minha Vespa era o nosso transporte, de onde o vento esvoaçava o teu cabelo naquelas curvas que por mim tão cuidadosamente eram dadas com mestria de piloto e de quem vai apaixonado naquela Serra da Arrábida tão explorada por nós. Da areia também guardo eu lembranças, a medida que os nossos dedos em plena ligação escreviam juras de amor e os nossos nomes, naquele areal branco e amarelo, pedindo a água que se acalmasse, rezando para que a maré não subisse à uma velocidade exagerada e para que as ondas que tão violentamente rebentavam perto dos nossos pés, não apagassem aquela obra-prima carregada de paixão e cumplicidade. Os almoços eram sardinhas assadas acompanhadas de pão. A simplicidade sempre foi o marco da nossa paixão. Eu bem digo, a simplicidade é a maior das complexidades, porque tudo na vida começa por ser simples, tudo na vida é simples, morre-se, nasce-se e vive-se, é simples. O nosso amor era assim verdadeiro e único. Os longos beijos que dávamos ao sabor do vento e do sumo de morango que se espalhava pelas nossas bocas, transformavam a Vespa numa nave espacial, de onde cada beiça puxada pelos dentes e cada arranho dado nas costas seriam combustível de uma nave que transbordaria com os seus propulsores para fora da galáxia, e do universo. Sim, lembras-te? Hoje não sei nada sobre ti. Desapareceste num para sempre que é hoje confirmado pela tua ausência e pela minha solidão. Procurei-te anos a fio e sem descanso. Bolas, fugiste que nem uma pomba branca assustada para longe dos meus olhos a medida que eles desabavam lágrimas sem fim, e a mesma carta que deixaste dizendo, “Desculpa tive que me ir”, ser queimada de raiva por mim a medida que soluçava e esmurrava aquele areal branco e amarelo por cima dos nossos nomes! Nem sei porque e para quem escrevo isto, se não passas de mais um espectro da minha mente e a origem do buraco negro que é o meu ser. Mas isto tudo não importa já que estou extremamente bêbado e, e , não sei o que fazer. Se calhar atarei esta carta há um pombo e ele que por magia te encontre e que te diga o quando ainda és importante, para mim.

Jaylson Graça

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